The World‘s Dental Newspaper - Edição Portuguesa Março 2023 pt.dental-tribune.com Vol. II, No. 1 IDS ATINGE AS 120 MIL PES- SOAS NO SEU CENTENÁRIO Cerca de 120 mil visitantes profissio- nais de 162 países marcaram presença para saber mais sobre a ampla gama de produtos dentários e tecnologia apre- sentados por 1.788 empresas exposito- ras de 60 países. Página 3 COLOCAR A SAÚDE ORAL NA AGENDA DE SAÚDE GLOBAL As doenças orais podem ter impactos va- riados, afetando as relações pessoais, a au- toconfiança e até a própria alimentação. É, por isso, fundamental manter a saúde da boca para que esta mantenha as suas fun- ções e contribua para a saúde no geral. Página 4 MÁ SAÚDE ORAL PODE CONTRIBUIR PARA DECLÍ- NIO DA SAÚDE CEREBRAL Os estudos têm mostrado que as doenças das gengivas, a falta de den- tes e outros sinais de má saúde oral, bem como maus hábitos de escova- gem e falta de remoção da placa, au- mentam o risco de AVC. Página 5 Editorial Dr. Luís Silva, Dr. Luís Monteiro e Dr. Rui Albuquerque “Queremos disseminar a importância da identificação precoce e tratamento das AOPMs” Por: Dental Tribune Portugal Os médicos dentistas Luís Silva, Luís Monteiro e Rui Albuquerque falaram com o Dental Tribune Portugal sobre o OPMDcare, um projeto europeu de promoção de informação sobre Alterações Orais Potencialmente Malignas (AOPMs). “O principal obje- tivo deste projeto é fornecer uma orientação atualizada aos médicos que atendem pacientes com AOPMs envolvendo a cavidade oral, permitindo-lhes reconhecer, investigar, diagnosticar e monitorizar essas alterações”. Para tal, foi criada uma plataforma di- gital de informação e transmissão de conhecimento - OPMD Healthcare Professional Training, um projeto cofinanciado pelo programa Erasmus+ da União Europeia (2020-2022). Por Ricardo Flaminio, diretor Nesta segunda edição, independen- te, mostramos um projeto europeu li- derado por um português em Londres, Rui Albuquerque, professor no King´s College, e com a participação de Luís Monteiro e Luís Silva da CESPU e que envolveu seis países participantes. Este projeto acrescenta mais-valias a todos os profissionais de saúde que obser- vam a cavidade oral do paciente. A iden- tificação de AOPMs - Alterações Orais Potencialmente Malignas foi o foco deste projeto que culminará na implementação de ferramentas que potenciarão a realiza- ção de um diagnóstico assertivo. Para além das notícias atuais do setor destaco a participação do Jornal Dental Tribune Portugal na reunião de traba- lho do grupo editorial Dental Tribune International que ocorreu em Colónia, na Alemanha, a poucos dias do início do IDS. Uma oportunidade de conhecer colegas editores dos variados títulos do DTI e que operam diretamente em 35 países onde a revista é publicada. Conversei com al- guns editores de países como Grécia, Eslovénia, Emirados Árabes Unidos (Dubai), Bulgária e, de todos, destaco o que mais me surpreendeu, o Vietname, porque a realidade deste país é oposta à de Portugal. Nunca é demais relembrar que existem mais de 7.000 clínicas no nosso país e mais de 12.000 cédulas já fo- ram atribuídas para o exercício da medi- cina dentária em Portugal. No Vietname existem pouco mais de duas mil clínicas que servem 97 milhões de habitantes e, portanto, o rácio de um dentista para 2.000 habitantes está bastante longe de ser alcançado. Não sei se as 16 horas de voo entre Lisboa e Ho Chi Minh podem ser um entrave, mas muitos turistas afirmam que não! Como nasceu e qual é o grande objetivo do projeto OPMDcare? Este é um projeto que nasceu da neces- sidade de transmitir informação sobre a importância do diagnóstico de cancro oral nomeadamente da identificação de vários tipos de alterações que podem transformar-se em cancro oral. Achamos que é fundamental a identificação pre- coce destas alterações orais potencial- mente malignas (AOPMs) numa perspe- tiva de identificação precoce do risco de transformação e eventual tratamento. O principal objetivo deste projeto foi for- necer uma orientação atualizada aos médicos que atendem pacientes com AOPMs envolvendo a cavidade oral, per- mitindo-lhes reconhecer, investigar, di- agnosticar e monitorizar essas alter- ações. Neste sentido desenvolvemos um consórcio europeu de especialistas de vários países dirigido à construção de uma plataforma digital de informação e transmissão de conhecimento - OPMD Healthcare Professional Training (www. opmdcare.com), um projeto cofinan- ciado pelo programa Erasmus+ da União Europeia (2020-2022). Quais são as faculdades envolvidas neste projeto? O consórcio europeu, liderado pelo co- lega Rui Albuquerque do King´s College of London, conta com vários outros colegas de unidades de medicina oral europeus com diferentes características e pontos fortes, nomeadamente na epidemiolo- gia, tecnologia, diagnóstico e tratamento destas alterações, trazendo experiências de casos de diferentes unidades de me- dicina oral através dos parceiros e respe- tivas universidades envolvidas. As insti- tuições associadas são: o King´s College London (Reino Unido), a Université de l a g u t r o P e n u b i r T l a t n e D © Bordeaux (França), a Universidade de Santiago de Compostela (Espanha), a Universita Degli Studi di Milano (Itália), a University of Zagreb (Croácia) e o Instituto Universitário de Ciências da Saúde - CESPU (Portugal). E a quem se dirige? A todos os profissionais de saúde que de alguma forma incluam a observação da cavidade oral na sua consulta. Neste sen- tido, embora os principais alvos do pro- jeto sejam os médicos dentistas/es- tomatologistas, todos os colegas como médicos de medicina familiar, de me- dicina do trabalho, enfermeiros, e outros profissionais podem ser importantes in- tervenientes para o diagnóstico destas alterações. Dr. Luís Silva, Dr. Luís Monteiro e Dr. Rui Albuquerque Como será o vosso “modus operandi” neste projeto? Toda a organização da página web foi desenvolvida em várias reuniões que decorreram algumas em formato zoom e outras presencialmente nas sedes de cada instituição envolvida. A informação será toda disponibilizada via digital, acessível gratuitamente, de forma a facil- itar a disseminação para todos os cole- gas. Outros materiais de informação, em artigos científicos e manuais, estão tam- bém disponíveis. Irão lançar também um livro em breve. O que podem os profissionais encontrar nessa publicação? Uma das formas de disseminação de in- formação para os profissionais de saúde foi a elaboração de um livro sobre estas

Dental Tribune Edição Portuguesa | março 2023 EVENTOS 03 International Dental Show IDS atinge as 120 mil pessoas no seu centenário Por: Dental Tribune Portugal Andreas Utz, diretor de operações da Straumann GmbH Alemanha, confirma também o sucesso da feira: “Um IDS de sucesso chegou ao fim para nós. Além de inúmeras e intensas reuniões com parcei- ros, clientes e partes interessadas, tive- mos muitos participantes, que acompa- nharam o nosso diversificado programa na Arena of Excellence ou por transmis- são ao vivo com grande interesse. Foi particularmente impressionante o gran- de interesse demonstrado pelas nossas soluções digitais inovadoras, como por exemplo as novas plataformas de de- sign e colaboração smilecloud ou Falcon, o novo sistema de navegação dinâmi- ca para a implementação do tratamento com implantes. Para nós, estar presente no IDS foi uma confirmação e motivação. Continuaremos a investir continuamente em soluções digitais para melhorar a ex- periência do cliente, tanto para os médi- cos quanto para os pacientes.” Já Josef Richter, diretor de operações e presidente do GC Europe, revela: “O evento de aniversário do IDS 2023 foi ex- tremamente bom para nós. Já no segun- do dia percebemos que os nossos investi- mentos num stand ainda maior e muitas apresentações ao vivo valeram a pena. O IDS é particularmente importante para nós, porque o intercâmbio pessoal entre a indústria, os utilizadores e o comércio é de imensa importância dentro de nossa família dentária”. O IDS regressa para mais uma edição em 2025, entre os dias 25 e 29 de março, no lo- cal do costume. e s s e m n l e o K © Oliver Frese, COO da Koelnmesse Grupo Editorial Dental Tribune Internacional DTI reúne-se no pré-lançamento do IDS Por: Dental Tribune International l a n o i t a n r e t n m e g a m I I e n u b i r T l a t n e D : O Dental Tribune International (DTI) rea- lizou o seu encontro anual de editores da maior rede mundial de publicações odon- tológicas, alguns dias antes do International Dental Show (IDS). A reunião contou, claro, com a presença de Ricardo Flaminio, diretor do Dental Tribune Portugal. Editores de 13 países reuniram-se em Colónia, Alemanha, para discutir "o estado atual da maior rede mundial de publicações odontológicas", além de "uma série de no- vos projetos para o próximo ano e uma sé- rie de novas abordagens estratégicas para o futuro". O CEO do DTI, Torsten Oemus, abordou os desafios que a medicina dentária enfren- tou nos últimos anos devido aos efeitos da pandemia de COVID-19. Oemus referiu que "à medida que a indústria odontoló- Editores de 13 países reuniram-se em Colónia gica se recupera, as principais tendências do setor são claramente digitalização, es- pecialização e consolidação". O DTI já ha- via adaptado seu portefólio de publicações ampliando o seu foco nos medias digitais e oportunidades de formação digital para dentistas antes do início da pandemia. Em 2022, o DTI continuou a responder a es- sas tendências adicionando novas publica- ções e páginas da web dedicadas a tópicos como impressão 3D em medicina dentária e tratamento com alinhadores transparentes ao seu portefólio de publicações impressas premium, fortalecendo assim as suas ope- rações regionais. “Em tempos de múltiplas crises, o objeti- vo comum de todos os parceiros do Dental Tribune International é construir um grupo de media sustentável”, enfatizou Oemus. e s s e m n l e o K © O evento abriu as suas portas pela 44ª vez de 14 a 18 de março de 2023, em Colónia, Alemanha. A edição que celebrou o 100º aniversário foi marcada pelo sucesso. Cerca de 120 mil visitantes profissionais de 162 países marcaram presença para saber mais sobre a ampla gama de produ- tos dentários e tecnologia apresentados por 1.788 empresas expositoras de 60 paí- ses. “O IDS 2023 foi convincente ao longo de toda a linha e, ao mesmo tempo, provou que continua a reinventar-se e a desen- volver-se mesmo depois de 100 anos. A dinâmica, a inovação e o poder que ema- nam do IDS são impressionantes. O IDS confirmou, mais uma vez, que é uma feira líder mundial. A qualidade dos visitantes foi - e digo isto não só como presidente da VDDI, mas também como expositor - sen- sacional. Juntamente com a Koelnmesse, com energia, ambição, criatividade e vi- sões, conduziremos com sucesso o IDS ao segundo século da história do evento. O mote deste ano, '100 anos de IDS – mol- dando o futuro dentário', é sinónimo da importância excecional da feira, hoje e no futuro”, comentou Mark Stephen Pace, presidente da Associação da Indústria Dentária Alemã (VDDI). Oliver Frese, COO da Koelnmesse, acres- centou: “Durante cinco dias, experimen- támos um IDS que cumpriu a sua missão como um importante hub internacional. Isso dá à indústria dentária global o im- pulso necessário para os próximos meses e, ao mesmo tempo, destaca a atração global da feira. O resultado do evento é ainda mais notável dado o atual ambien- te geopolítico desafiador”. O IDS convenceu, mais uma vez, com o seu elevado nível de internacionalidade e qualidade dos visitantes: 60% dos visi- tantes profissionais vieram do exterior. Como de costume, a presença dos países da União Europeia, como Itália, França, Holanda, Espanha, mas também Bélgica, Roménia e Grécia, foi elevada. Foi ainda registada uma grande parcela de visitan- tes da Ásia, América do Sul, EUA e Canadá. Dois tópicos destacaram-se no IDS deste ano: fluxos de trabalho digitais completos e sustentabilidade. Além disso, um núme- ro considerável de empresas apresentou aplicações de inteligência artificial. IDS 2023 recebeu 1.788 empresas de 60 países "O IDS conseguiu um recomeço fantásti- co após as restrições e exigências impos- tas devido à pandemia de COVID-19. O elevado número de visitantes e exposito- res prova a vitalidade e a diversidade da nossa profissão. Como parceiro de longa data, a Associação Alemã de Dentistas também está muito feliz por ter feito parte do aniversário do IDS", resumiu Christoph Benz, presidente da Associação Alemã de Dentistas (BZÄK). IDS 2023 em números 1.788 empresas de 60 países participa- ram no IDS 2023, num espaço de exposi- ção com 180.000 m². Este espaço incluiu 433 expositores da Alemanha, bem como 1.351 expositores e quatro empresas re- presentadas adicionalmente do exterior. Os expositores estrangeiros representa- ram 75% do total. Incluindo as estima- tivas para o último dia da feira, cerca de 120 mil visitantes profissionais de 162 países compareceram na feira de 2023, dos quais cerca de 60% eram de fora da Alemanha. Portugueses na feira Foram sete as empresas portuguesas que marcaram presença na 40ª edi- ção do IDS: Bastos Viegas ; Alinhadores Invisíveis Ensmile; Exaktus, Material Reabilitação Oral; Medbone Dispositivos Médicos Lda; Nobicom ; Osteotech, Tecnologia e Desenvolvimento; e PWC PricewaterhouseCoopers - Assessoria. Opinião dos expositores: Simon Campion, presidente e CEO da Dentsply Sirona, afirma que o IDS "foi importante para nós, como empre- sa, uma vez que conseguimos estar no- vamente no local e conhecer os nossos clientes pessoalmente - isso faz a dife- rença. Seguindo o lema 'Unidos por uma medicina dentária melhor', oferecemos aos visitantes um programa de 40 horas de demonstrações ao vivo e treino práti- co. No âmbito de nossos painéis de dis- cussão, também deixámos claros os te- mas da digitalização e sustentabilidade. Podemos influenciar positivamente a vida de milhões de pacientes, mas, para isso, precisamos de uma troca mútua e maior cooperação".

Dental Tribune Edição Portuguesa | março 2023 INVESTIGAÇÃO 05 Yale School of Medicine, New Haven Má saúde oral pode contribuir para declínio da saúde cerebral Por: Dental Tribune Portugal Uma investigação preliminar, apresentada na Conferên- cia Internacional do Acidente Vascular Cerebral (AVC) da American Stroke Association 2023, nos dias 8 e 10 de fevereiro, em Dallas, revelou que predisposições genéti- cas para problemas de saúde oral aumentam o risco de hiperintensidades da substância branca, bem como au- mentam em 43% o dano microestrutural no cérebro. O estudo contribui para o crescente corpo de evidências que ligam a má saúde oral a um risco aumentado de dis- túrbios neurológicos. Os estudos têm mostrado que as doenças das gengi- vas, a falta de dentes e outros sinais de má saúde oral, bem como maus hábitos de escovagem e falta de remo- ção da placa, aumentam o risco de AVC. De acordo com a American Stroke Association, o AVC é a quinta causa de morte e uma das principais causas de incapacidade nos Estados Unidos. Pesquisas anteriores também descobri- ram que a doença gengival e outros problemas de saúde oral estão ligados a fatores de risco para doenças cardía- cas e outras condições, como pressão arterial elevada. “O que não ficou claro é se a má saúde oral afetou a saúde cerebral, ou seja, o estado funcional do cérebro de uma pessoa, que agora somos capazes de entender melhor ao usar ferramentas de neuroimagem como res- sonância magnética”, disse o autor do estudo, Cyprien Rivier, pós-doutorado em neurologia na Yale School of Medicine em New Haven, Connecticut. “Estudar a saú- de oral é especialmente importante porque a má saúde oral acontece frequentemente e é um fator de risco facil- mente modificável – todos podem melhorar efetivamen- te a saúde oral com o mínimo de tempo e investimento financeiro”, acrescenta. Assim como as escolhas de estilo de vida saudável afe- tam o risco de doenças cardíacas e acidentes vasculares cerebrais, também afetam a saúde cerebral, que inclui a capacidade de se lembrar das coisas, pensar com clareza e agir. Três em cada cinco pessoas nos EUA desenvolve- rão doenças cerebrais ao longo da vida, de acordo com as últimas estimativas da American Stroke Association, uma divisão da American Heart Association. Entre 2014 e 2021, os investigadores do estudo analisa- ram a potencial ligação entre a saúde oral e a saúde ce- rebral entre cerca de 40.000 adultos (46% homens, com idade média de 57 anos) sem histórico de AVC inscritos no Biobank do Reino Unido. Os participantes foram ras- treados para 105 variantes genéticas conhecidas por pre- dispor as pessoas a ter cáries, próteses e dentes perdidos, e a relação entre a carga desses fatores de risco genéticos para uma má saúde oral e cerebral foi avaliada. Os sinais de problemas de saúde cerebral foram rastrea- dos por meio de ressonâncias magnéticas aos partici- pantes: hiperintensidades da substância branca, defini- das como danos acumulados na substância branca do cérebro, que podem prejudicar a memória, o equilíbrio e m o c . h s a l p s n u m e n a i r u k a F d a l i M © Este estudo é preliminar e são precisas mais evidências para confirmar que a melhoria da saúde oral na população levará a benefícios para a saúde cerebral. a mobilidade; e danos microestruturais, que é o grau em que a arquitetura fina do cérebro mudou em compara- ção com imagens de uma tomografia cerebral normal de um adulto saudável de idade semelhante. Na análise feita, os investigadores encontraram: - as pessoas geneticamente propensas a ter cáries, fal- ta de dentes ou necessidade de dentaduras tiveram uma carga maior de doença cerebrovascular silenciosa, re- presentada por um aumento de 24% na quantidade de hiperintensidades de substância branca visíveis nas ima- gens de ressonância magnética. - aqueles com saúde oral geneticamente pobre, em ge- ral, tiveram danos aumentados na arquitetura fina do cérebro, representado por uma mudança de 43% nas pontuações de danos microestruturais visíveis nas res- sonâncias magnéticas. As pontuações de danos microes- truturais são resumos cerebrais dos danos sofridos pela arquitetura fina de cada região cerebral. “A má saúde oral pode causar declínios na saúde cere- bral, por isso, precisamos de ter mais cuidado com a nos- sa higiene oral, porque tem implicações muito para além da boca. No entanto, este estudo é preliminar e são pre- cisas mais evidências, idealmente por meio de ensaios clínicos, para confirmar que a melhoria da saúde oral na população levará a benefícios para a saúde cerebral”, afirma o autor do estudo. A análise foi limitada pelo facto de o Biobank do Reino Unido inclur apenas pessoas que residem no Reino Unido e são, predominantemente, de ascendência euro- peia (94% dos participantes do Biobank do Reino unido relataram ser de raça branca contra 6% de mestiços, bri- tânicos negros, britânicos asiáticos, ou outro). Além dis- so, são necessárias mais pesquisas entre pessoas de di- versas origens raciais e étnicas. Joseph P. Broderick, professor do Departamento de Neurologia e Medicina de Reabilitação da Universidade de Cincinnati e diretor do Instituto de Neurociências da Universidade de Cincinnati Gardner, disse que embora os resultados do estudo não demonstrem que a higiene dental melhora a saúde do cérebro, as descobertas são “intrigantes” e devem suscitar mais pesquisas. “Fatores ambientais como tabagismo e as condições de saúde como a diabetes são fatores de risco muito mais fortes para originar problemas de saúde oral do que qual- quer marcador genético – exceto para condições genéti- cas raras associadas a uma saúde oral deficiente, como esmalte defeituoso ou ausente. Ainda é um bom conse- lho prestar atenção à higiene oral e à saúde. No entanto, como as pessoas com problemas de saúde cerebral ten- dem a estar menos atentas à boa saúde oral em compa- ração com pessoas com saúde cerebral normal, é impos- sível provar causa e efeito. Além disso, os perfis genéticos para um maior risco de saúde oral podem sobrepor-se a fatores de risco genéticos para outras condições crónicas de saúde como diabetes, hipertensão, AVC, infeções, que são conhecidas por estarem relacionadas com marcado- res de imagem cerebral”, acrescentou Broderick, que não fez parte deste estudo. Fonte: American Heart Association Universidade de Turku, Finlândia Fumar durante a gravidez está associado à ansiedade dentária Por: Dental Tribune International Num novo estudo, investigadores finlan- deses descobriram que pessoas que fumam durante a gravidez, especialmente as mães, apresentam níveis mais elevados de ansie- dade dentária do que as não fumadoras. A ansiedade dentária tem implicações no tratamento dentário, já que os pacientes podem atrasar a ida à consulta, o que afeta negativamente a saúde oral e a qualidade de vida. As causas associadas a este medo incluem fatores exógenos e endógenos e o consumo de tabaco ou produtos deriva- dos foi associado a uma elevada ansieda- de dentária. Uma vez que muitos futuros pais param de fumar durante a gravidez, alguns permanecem não fumantes e al- guns voltam a fumar após o parto, estudar essa população permite examinar as mu- danças concomitantes no tabagismo e na ansiedade dentária. Com o objetivo de estudar se as alterações no tabagismo e a ansiedade dentária têm uma correlação direta, os investigadores utilizaram o estudo FinnBrain Birth Cohort Study, com dados dos pais desde o início da gravidez. Controlaram as alterações no consumo de tabaco e a ansiedade dentá- ria durante e depois da gravidez e investi- garam as mudanças nos índices de ansie- dade dentária em não fumadoras estáveis, fumadoras flutuantes e fumadoras está- veis nas semanas de gestação 14 e 34 e aos três meses pós-parto. Descobriu-se que as mães que fumavam durante toda gravidez tinham níveis mais elevados de ansiedade dentária do que as que não fumavam ou o faziam apenas periodicamente. A mesma tendência ob- servou-se nos pais. Também os fumado- res periódicos revelaram mais ansiedade dentária do que aqueles que não fuma- ram. Estas descobertas são relevantes para os médicos dentistas que tratam fu- turos pais fumadores. As taxas de ansiedade dentária em adultos estudo em questão a nível mundial ainda não foram largamen- te contabilizadas, mas os investigadores deste estudo citaram um trabalho que mos- tra que até metade dos adultos na Finlândia lutam contra a ansiedade dentária. O intitula-se “Concurrent changes in dental anxiety and smoking in parents of the FinnBrain Birth Cohort Study” e foi publicado a 4 de janei- ro de 2023 na revista European Journal of Oral Sciences. Notas Pode consultar o artigo em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih. gov/36599651/

Dental Tribune Edição Portuguesa | março 2023 OPINIÃO / SOCIEDADE Dia Mundial do Sono O impacto da saúde oral na qualidade do sono dos portugueses Por: Dr. Luís Corte-Real, Diretor Clínico da Clínica Parque da Cidade A falta de cuidados de saúde oral, como a hi- giene oral inadequada e a falta de visitas re- gulares ao dentista, pode levar a cáries, doenças gengivais e outras condições que po- dem causar dor e desconforto durante o sono, levando a interrupções no sono e a uma qualidade de sono reduzida. Dito isto, a saúde oral pode ter um impacto significativo na qualidade do sono, podendo mesmo con- tribuir para distúrbios do sono como a ap- neia do sono e a roncopatia. A apneia do sono é um distúrbio onde a respiração é in- terrompida durante o sono, o que pode levar a um sono interrompido e à falta de oxigénio no corpo. Pode estar relacionada com problemas dentários - como mandíbu- las pequenas - ou problemas com a estrutura da boca e da garganta. Já a roncopatia pode ser causada por, por exemplo, problemas dentários, problemas com a língua, as amígdalas, as adenoides ou outras estruturas na boca e na garganta. O ronco é causado pela vibração dos teci- dos moles na garganta quando o ar passa pelas vias aé- reas restritas. A maioria dos distúrbios do sono - incluindo os relacio- nados à saúde oral - são tratáveis e muitas vezes evitá- veis. Obviamente, o tratamento pode variar dependen- do do tipo e gravidade do distúrbio, mas muitas vezes envolve mudanças no estilo de vida, dispositivos orais, terapia comportamental, uso de aparelhos de pressão positiva nas vias aéreas e, em alguns casos, cirurgia. O dispositivo de avanço mandibular (DAM) é um dispo- sitivo oral usado no tratamento da apneia do sono e da roncopatia, que funciona movendo a mandíbula para frente durante o sono para manter as vias aéreas abertas e melhorar a respiração. Exemplo disso é o NOA, um tipo de DAM que possui algumas características diferenciais em relação a outros dispositivos orais no mercado. Uma das principais diferenças do NOA é que ele é personali- zado para o paciente por meio de um processo de digi- talização e impressão 3D da boca do paciente, que per- mite que o dispositivo seja mais confortável e adaptado à anatomia específica do paciente, reduzindo o risco de efeitos colaterais, como dor na mandíbula ou dentes sol- tos. Além disso, o NOA possui uma base de suporte de língua integrada, que ajuda a manter a língua posiciona- da corretamente e reduzir o risco de obstruções das vias aéreas superiores. Contudo, o tratamento mais adequa- do deve ser determinado por um profissional de saúde especializado em distúrbios do sono, levando em consi- deração as necessidades individuais do paciente. Por outro lado, existem muitas mudanças no dia a dia que podem ajudar a melhorar a qualidade do sono, mes- mo sem o uso de tratamentos orais ou outros dispositi- vos, como por exemplo: manter um horário de sono con- sistente, criar um ambiente de sono confortável, evitar dispositivos eletrónicos antes de dormir, evitar bebidas e alimentos estimulantes - como a cafeína, álcool e taba- 07 Dr. Luís Corte-Real Diretor clínico da Clínica Parque da Cidade. Com mais de 20 anos de expe- riência, a Clínica Parque da Cidade coloca à dis- posição uma aliança entre a sua equipa es- pecializada e multidis- ciplinar que atua nas diversas áreas médicas. co - antes de dormir, fazer atividades relaxantes antes de dormir, praticar exercício físico regular e gerir o stress - com técnicas de relaxamento e exercícios de respiração, por exemplo. Embora a consciencialização sobre os distúrbios do sono tenha aumentado nos últimos anos, ainda há muitas pessoas que não procuram ajuda para tratar seus pro- blemas. Isso pode ser devido a uma variedade de fato- res, como falta de acesso a profissionais de saúde, falta de consciencialização sobre os tratamentos disponíveis e estigma em torno dos distúrbios do sono. No entanto, é importante destacar que há muitos recursos disponí- veis para ajudar as pessoas que sofrem de distúrbios do sono, incluindo profissionais de saúde especializados em distúrbios do sono. Também é importante que as pessoas sejam encorajadas a procurar ajuda quando es- tiverem enfrentando problemas de sono, especialmente se tiverem outros problemas de saúde que possam estar relacionados. Angelina Meireles participa em missão da Mundo a Sorrir na Guiné-Bissau “Devemos partilhar o nosso saber com aqueles que dele necessitem” Por: Dental Tribune Portugal Angelina Meireles recebeu o prémio SPO/Essilor – Voluntariado no 65º Congresso de Oftalmologia, que decorreu de 1 a 3 de dezembro no Convento de São Francisco, em Coimbra. Este prémio deve-se à missão que a oftalmologista faz juntamente com a Mundo a Sorrir na Guiné-Bissau. A atual vice-presidente da SPO revela-nos que o que a atraiu “foi o facto de ir en- sinar, tentar deixar algumas sementes, que se forem ‘regadas’ podem vir a florescer”. Embora o “core” da Mundo a Sorrir seja a saúde oral, já que foi fundada por dois médicos dentistas, a sua intervenção não se esgota apenas nessa área. “Tem intervenções tanto assistencial como de capacita- ção em várias áreas da saúde, nomeadamente saúde materno-infantil e saúde pública. Entrei na Mundo a Sorrir por casualidade. A minha filha mais velha, que é dentista, esteve durante três anos a coordenar a mis- são na Guiné-Bissau. A Universidade pediu-lhes apoio para arranjar professores para algumas cadeiras, que incluía oftalmologia. Quando ela me perguntou se no Hospital eu arranjaria algum colega que pudesse ir à Guiné dar as aulas, apesar de nunca ter pensado em fazer voluntariado, eu não hesitei e disponibilizei-me. O que me atraiu foi o facto de ir ensinar, tentar deixar algumas sementes, que se forem ‘regadas’ podem vir a florescer”, começa por contar Angelina Meireles ao Dental Tribune Portugal. Quando questionada sobre a distinção em causa, a médica oftalmologista revela que “trata-se de um pré- mio de reconhecimento do valor da atividade voluntá- ria que eu tenho exercido ao longo dos últimos cinco anos. Desde 2017 que colaboro com a Mundo a Sorrir na vertente de capacitação. Isto é, sou a responsável pela cadeira de oftalmologia do curso de Medicina na Universidade Piaget Guiné-Bissau. Todos os anos des- loco-me a Bissau, durante duas semanas, para lecio- nar as aulas teóricas e práticas (que maioritariamen- te ocorrem no Hospital Simão Mendes, no serviço de oftalmologia) terminando com a avaliação. O número s e l e r i e M a n i l e g n A © Desde 2017 que Angelina Meireles colabora com a Mundo a Sorrir na vertente de capacitação. de alunos (que frequentam o 5º ano) tem sido variá- vel de ano para ano (entre 18 a 32 alunos). No período em que lá estou os alunos frequentam apenas oftal- mologia (prática de manhã e teórica à tarde). No últi- mo ano, e porque doei o material do meu consultório à Mundo a Sorrir, montámos um consultório provisó- rio na universidade para atender graciosamente a po- pulação necessitada e, ao mesmo tempo, dar as aulas práticas. Com a ajuda dos alunos conseguimos fazer cerca de 400 consultas”. Angelina Meireles comentou ainda que não sabe se esta dedicação ao outro é a sua veia solidária a “falar” ou uma regalia. “Apaixonei-me por este tipo de missão e apaixonei-me pela Guiné. Vivemos numa sociedade tão reivindicativa e competitiva, tão insatisfeita com o que temos e o que nos rodeia, que se calhar estas duas semanas que eu dedico à Guiné são mais em be- nefício próprio. Como cidadãos, e como médicos em particular, acho que devemos partilhar o nosso saber com aqueles que dele necessitem”, conclui.