notícias Odontologia e Sustentabilidade: o que o Cirurgião-Dentista pode fazer para garantir a continuidade da vida no planeta? O evento trouxe palestras e debate constituídos por líderes de opinião da academia, governo, associações, socie- dade civil e indústria sobre importantes questões emergentes das políticas pú- blicas de saúde bucal. Durante a palestra “O papel da Ci- ência, Tecnologia e Inovação”, Claudio Fernandes, coordenador do Centro de Odontologia Sustentável da Universi- dade Federal Fluminense, alertou que a profissão de Cirurgião-Dentista está sendo desafiada pela crescente de- manda por melhores cuidados de saúde Como a Odontologia pode contribuir para a melhoria e a qualidade de vida no planeta? Essa questão foi debatida ontem (31) no CIOSP durante o VI Sim- pósio de Odontologia Sustentável, reali- zado pela ABCD, ADI Brasil e diversas entidades apoiadoras, como a APCD. A Odontologia sustentável inclui a dimensão da sustentabilidade na vida profissional do Cirurgião-Dentista em três aspectos: preservação dos recursos naturais, desenvolvimento econômico e valorização humana. A inclusão da saúde bucal na Agenda 2030 da Organização das Na- ções Unidas para desenvolvimento sau- dável, a convenção de Minamata sobre o mercúrio e a Declaração Política so- bre Cobertura Universal da saúde fo- ram abordados no simpósio. © Márcia Costa Claudio Fernandes, coordenador do Centro de Odontologia Sustentável da Universidade Federal Flu- minense. bucal em quantidade cada vez maior em todo o mundo. “Ao mesmo tempo, há obrigação de reduzir as exigências que se coloca sobre os recursos finitos da Terra. O sucesso de profissionais de Odontologia, assim como em outras áreas da sociedade, será julgado por quão bem respondem a estes desafios”, enfatiza o professor. “Hoje as páginas dos jornais estão tomadas por notícias sobre incêndios, alagamentos, crise hídrica, falta de acesso, pobreza, discriminação. O den- tista precisa se integrar aos novos valo- res que a sociedade exige, e é uma forma de ele também ser valorizado”, ressalta Claudio Fernandes. A sustentabilidade no campo da Odontologia prevê estudos de caso de separadores de amálgama, conservação de água, materiais restauradores alter- nativos e letramentos em saúde bucal. Para a conservação do meio am- biente, o especialista sugere práticas simples. “Basta o profissional olhar para a sua prática e perceber onde estão as grandes áreas grandes de desperdício”. O Brasil conta hoje com 300 mil dentis- tas e cada contribuição individual conta para a preservação do planeta, explica. Eliminar o mercúrio do planeta é uma das ações importantes: “O amál- gama dentário é um dos grandes pro- blemas hoje, haja visto que é um pro- duto amplamente utilizado em práticas de restauração no campo da saúde”. Segundo Silvio Cecchetto, presi- dente da ABCD, os produtos usados na radiologia (como fixador, revelador), não contam com correto descarte. “Além disso, no dia a dia é preciso desmontar © Márcia Costa o amálgama em pedaços maiores para evitar a liberação de mercúrio. Há forma de captar fragmentos do amálgama e direcioná-lo para evi- tar contaminar a natureza”. Para a preservação do meio ambiente é preciso transformar tecnologias, incorporar serviços e práticas que reduzam impactos na natureza, destaca Claudio Fernan- des. O profissional da Odontologia também precisa refletir sobre o consumo diário de água em sua clí- nica. “Segundo a Unesp de Arara- quara, Unesp, o dentista usa 700 litros de água diariamente, en- quanto a medida da população é 100 litros por pessoa. “São sete vezes mais, é muita água por dentista. Se so- mar o número de dentistas atuando... E não é só fechar a cuspideira. Os sugado- res, pra gerar vácuo, puxam água da rede, são 200 litros por dia de água limpa, tratada. Quando você olha, vê que a saúde bucal tem grande respon- sabilidade sobre a sustentabilidade”. Outra reflexão importante é sobre a quantidade de resíduo, de equipamento contaminado, principalmente por conta do uso dos equipamentos de proteção do Cirurgião-Dentista e do paciente (os chamados EPI). “Para onde vai isso? Como gerir, recolher, reciclar, incinerar de forma segura?”. Outra pauta que precisa de atenção é o consumo de energia nos consultó- rios. “Escolhemos fogões, geladeiras que proporcionam um consumo respon- sável. Mas autoclaves e compressores não têm tem selo de sustentabilidade. Isso precisa estar na pauta”. Silvio Cecchetto, presidente da ABCD. O Cirurgião-Dentista é agente de sustentabilidade, e por isso precisa se envolver com o tema, defende. “Ele pre- cisa interagir com paciente, sua popula- ção. Cada pessoa usa de 3 ou 4 escovas de dente ano. Todos os anos são 100 mil toneladas de plástico só de escova de dente. O dentista pode instalar no seu consultório um ponto de coleta de es- cova dos seus pacientes. É uma ação simples, mas de grande impacto no meio ambiente, na sustentabilidade”, diz Claudio Fernandes. “O recado para a Odontologia, para as pessoas, é sobre a necessidade de se preservar o meio ambiente, para se as- segurar o futuro da vida”, finaliza Sílvio Cecchetto. O Fórum de Sustentabilidade conta com o apoio da APCD, CFO, ABO, CROSP e ABIMO. Além da USP e UFF, e das em- presas Metasys, SDI e Ivoclar Viva- dente. Prevenção de Câncer Oral ABCD lança no CIOSP versão em português do livro da Organização Regional Europeia (ERO) A prevenção do câncer oral é uma das prioridades da Agenda 2030 da ONU. O lançamento da versão em por- tuguês do livro on-line “Prevenção do Câncer Oral”, ontem (31), no CIOSP, se- gue a proposta de conscientizar o papel do cirurgião-dentista no combate à do- ença. A iniciativa é da Associação Bra- sileira de Cirurgiões-Dentistas (ABCD). O lançamento ocorreu no VI Simpó- sio de Odontologia Sustentável, que contou com a palestra “Prevenção do Câncer Oral como prioridade das metas da Agenda 2030”, proferida pela da profa. dra. Maria Carolina de Lima Jacy Monteiro Barki, do Instituto de Saúde Nova Friburgo da Universidade Federal Fluminense (ISNF/UFF). A versão original do livro foi lan- çada pela European Regional Organiza- tion (ERO). A tradução da obra para o português foi feita em parceria com o Instituto de Saúde Nova Friburgo da Universidade Federal Fluminense, sob a coordenação científica da equipe de Estomatologia e com coordenação geral do prof. Claudio Fernandes, coor- denador do Centro de Odontologia Sustentável do ISNF/UFF e asses- sor internacional da ABCD. O livro é prefaciado pelo presidente da ABCD, Silvio Cecchetto. “A obra está à disposição online, só é pre- ciso acessar o site da APCD e fazer o download”, explica. A obra destaca o papel do ci- rurgião-dentista como protago- nista na prevenção da doença den- tro do sistema de saúde e da sociedade, orientando o paciente a bons hábitos de saúde que se refle- tem na saúde bucal. “A ABCD abraça esta causa preventiva desde o início, promo- vendo ações de alerta ao câncer bucal nas ruas, com cirurgiões- -dentistas examinando a popula- ção em odontovans, para o diag- nóstico precoce e conscientização sobre os malefícios do tabaco e da bebida, e agora fazendo parte da Campanha Sorrir Muda Tudo, que reúne entidades e empresas para despertar a atenção da população sobre a importância da saúde bu- cal para a saúde geral”, alerta o presidente da ABCD. “O livro Prevenção de Câncer Bucal é de enorme valia para a nossa profissão, pois se trata de um trabalho feito originalmente com a participação de 19 autores de todo o mundo, especialistas que compar- tilham sua expertise sobre o tema e que abrange tanto a Medicina como a Odontologia, sob a visão da Saúde Bucal integrada à Saúde, como deve ser”, destaca Cecchetto. “O livro foi fruto de um forte trabalho de colaboração interna- cional, reúne os maiores nomes globais do câncer oral e representa um acervo de destaque para apoiar os cirurgiões dentistas a identificar e atuar precocemente contra a doença”, diz Fernandes. Segundo o especialista, há uma grande relação entre doença e sus- tentabilidade. “Qual a atitude mais sus- tentável que a saúde precisa ter? Se não tem doença, não tem resíduo, não tem produto, energia, água. Logo, a atitude mais sustentável é atuar em todo tipo de política que visa à prevenção de saúde”. A prevenção, portanto, é o melhor remédio, lembra Cecchetto. “Queremos conscientizar de que o câncer bucal mata e o HPV é extremamente conta- gioso. Lembrar sobre a necessidade dos cuidados do dentista, lembrar à popula- ção que ir ao dentista pode salvar vidas”. O presidente da ABCD reforça que a associação de açúcar e cigarro é extre- mamente danosa e que é preciso que a saúde pública aborde a questão. “O Mi- nistério da Saúde deveria focar em uma campanha sobre esses riscos. A boca é entrada de tudo, da saúde e da doença. Podemos cobrar isso do Ministério, da Coordenação de Saúde Bucal, pra que haja campanha envolvendo entidades de classe, organismos da Odontologia, pra que a gente possa salvar vidas”, fi- naliza. 38º CIOSP · 01 de fevereiro 2020 3